O Alpinismo Social é Sempre Ruim?
Buscar a companhia dos
bem-sucedidos é uma estratégia de sobrevivência
Nós normalmente pensamos que o
alpinismo social é uma coisa ruim, mas será que é sempre errado buscar a
companhia dos bem-sucedidos?
Existem poucos rótulos mais
incômodos e pejorativos do que ser classificado como ''alpinista social''.
Em uma época em que as pessoas estão prontas para admitir uma incrível variedade de contravenções, ainda é genuinamente chocante confessar um interesse em conhecer pessoas ricas, famosas e poderosas - bem como em se afastar de conhecidos cujas carreiras não se desenvolveram da maneira que poderia ter sido.
Você pode ter certeza que existe
um problema de honestidade quando a sociedade passa seu tempo condenando
brutalmente um comportamento que parece interessar a muitos de seus
integrantes, por isso talvez seja hora de dar uma olhada honesta no fenômeno do
alpinismo social - e ver o que exatamente está errado com ele, e se há algumas
ocasiões em que ele pode ser ok.
Uma das razões pela qual o rótulo
é chocante é que ele não faz distinções entre as diferentes formas de aspiração
social, algumas menos nocivas do que outras.
Ao colocá-las todas no mesmo
balaio, isso implausivelmente força todos a sensivelmente negar qualquer
interesse no tema como um todo.
E, ainda assim, o alpinismo social, como a
raiva ou a inveja, possui suas versões boas e más, e assim como outros supostos
pecados, é uma parte inerente dos elementos dos quais somos feitos e seria
sensato tentar compreendê-lo e observar suas nuances - em vez de negá-lo e
tentar extirpá-lo por vergonha.
Existem várias maneiras de se
interessar por aqueles que estão no topo da sociedade assim como existem várias
maneiras de ler livros
O que parece ser uma atividade
unitária, de fato oculta uma série de abordagens. Ficar fascinado por figuras
proeminentes não é um sinal de mal por si só, assim como ler Moby Dick não é
por si só uma prova de inteligência.
É preciso cavar um pouco mais fundo, para
entender como o interesse está se formando antes de podermos fazer um
julgamento. Vamos começar sendo gentis com a atividade.
Não há dúvida de que o alpinismo social seria visto com mais boa vontade se fosse descrito como uma manifestação de ''etnografia'' ou ''turismo''.
Descartar um velho amigo do
colégio primário para aproveitar uma oportunidade de conhecer Bill Gates ou
Barack Obama não deveria ser visto como uma depravação, mas sim como prova de
uma curiosidade inteiramente natural, de fato desejável, a respeito do
funcionamento do mundo moderno.
É uma incoerência de nossos
mecanismos de julgamento que uma pessoa seja rotulada como sendo séria e
honrada por sentar sozinha na cama lendo um livro escolar sobre os barões
ladrões dos Estados Unidos do século 19 (recheados de detalhes sobre como eles
faziam suas fortunas, as atitudes de seus compatriotas, sua relação com a
religião, seus hábitos pessoais, etc.), e ainda assim poderia ser considerado
trivial, desesperado e superficial querer muito aproveitar a oportunidade para
jantar com um grupo de chefões do Vale do Silício.
O alpinismo social também se
torna um pouco menos absurdo se alguém se dá conta do quando ele é na verdade
uma estratégia de sobrevivência.
O interesse de muitas pessoas em
participar de festas e em manter conversas com os poderosos não se limita a uma
improdutiva busca de obter prazer, mas sim uma tentativa de se manter apto para
o trabalho, se baseando na suposição verdadeira de que os chefes constantemente
olham de forma mais benevolente para aqueles a quem já conhecem socialmente.
A ideia fixa em se tornar um
plutocrata talvez não seja, portanto, menos digna de respeito e dignidade do
que a caça bem-sucedida a um javali da qual toda uma comunidade primitiva pode
um dia já ter dependido.
Muitos carregam pagamentos de
prestações e despesas de alimentação em suas costas. Talvez não sejamos
ensinados a associar eventos corporativos com heroísmo.
Eventos que envolvem travar
batalhas com os mais banais dos instrumentos, com piadas de mau gosto e
comentários sobre a qualidade dos canapés, mas são batalhas de toda maneira
comparáveis em sua intensidade e exigências a rastrear animais furtivos pelas
florestas mortais do mundo pré-histórico.
É impossível ser uma criatura
social, fazer parte da sociedade e não se sentir miseravelmente atingido por
uma forte inveja durante muitas vezes. É claro, algumas emoções são um tabu,
como a própria inveja.
Se nós rimos do famoso sofisma de Gore Vidal - ''Cada vez que um amigo meu é bem sucedido, um pedaço de mim morre'' - é porque ele nos dá a rara chance de nutrir um sentimento que somos forçados a arcar em grande parte com um silêncio solitário.
Mas, no entanto, como criaturas
sociais, devemos ter o cuidado de negar a nós mesmos a chance de sentir inveja
com regularidade. Recusar a sentir inveja é também recusar qualquer chance de
desenvolvimento pessoal ou crescimento, já que nossos sentimentos de inveja são
guias importantes para aquilo que almejamos em nossa vida.
Se fechar para quaisquer
sentimentos de inveja é também se fechar para aquilo que você realmente quer, e
poderá um dia ter - se você pode ser capaz de olhar com sinceridade para aquilo
que ainda está faltando.
É simplesmente correto, e até
saudável, para qualquer um que esteja começando nos negócios ou na culinária ou
no esporte ou na arte sentir inveja de pessoas mais bem-sucedidas - de se
debruçar sobre seu sucesso e de se sentir esmagado por uma sensação de
inadequação por conta da comparação. De que outra forma alguém poderia vir a
ter a energia para conquistar?
A inveja se torna nociva quando
nos tornamos desamparados perante ela. Podemos cair no ódio, puro e simples e
daí, gradualmente, em uma amargura auto-destrutiva. As pessoas mais invejosas
estão constantemente alheias à sua própria inveja e às suas inadequações podem
contaminar suas avaliações a respeito de tudo. A pessoa que inveja a vida
amorosa de outro pode começar a fazer discursos abstratos sobre como o amor romântico
é uma ilusão.
Estamos correndo o risco de
perder algo valioso quando simplesmente rotulamos a inveja como um pecado.
Assim como várias outras motivações, ela tem componentes negativos e positivos,
que precisam ser regulados e administrados, em vez de simplesmente extirpados
como um câncer.
Podemos respeitar a inveja como um primeiro passo, doloroso, mas não inevitável, no sentido de obter algo do qual podemos nos orgulhar - ou algo que fará com que os outros sintam inveja.
O que distingue os alpinistas
sociais como corrompidos ou como perdoáveis é a forte crença por parte dos
primeiros no conceito de que os ricos, poderosos e famosos são em essência
melhores do que outras pessoas.
Eles não aceitam meramente que estes tipos são
sortudos ou talentosos de uma maneira especial, eles sinceramente acreditam que
eles são seres humanos mais refinados.
Esse é o caminho do esnobismo bem como o
da negligência cruel de qualquer um que não apresenta as insígnias do sucesso.
No século 16, o filósofo francês
Motaigne nos aconselhou a lembrarmos do papel exercido - em suas palavras -
pelo ''ocaso em nos conceder a glória segundo a sua vontade inconstante: eu
constantemente vi o acaso marchar à frente do mérito, e em muitas ocasiões
superar o mérito por uma ampla margem''.
Por isso, Montaigne pediu que
mantivéssemos o controle sobre nossas emoções durante encontros com os ricos e
poderosos e sobre nossos julgamentos quando nos deparamos como pobres e
obscuros.
Como ele escreveu: ''Um homem pode ter um grande número de assistentes, um belo palácio, grande influência e uma renda elevada. Tudo isso pode cercá-lo, mas não é ele. Meça sua altura, sem suas pernas-de-pau''.
Existem pessoas melhores e piores
pelo mundo, mas é ingênuo e cruel concluir que elas poderiam ser convenientemente
localizadas por conta de quanto dinheiro têm ou quanto trabalho fazem.
É nisso que o esnobe se recusa a
acreditar, confiando, em vez disso, na existência de elites cujos integrantes
invariavelmente prevalecem sobre os demais de nós - eletricistas, professoras
primárias ou escritores cujos nomes ninguém nunca ouviu falar.
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